Recentemente, tomei conhecimento do caso de um paciente que recebeu de um médico de especialidade diferente da urologia a solicitação de uma ressonância magnética (RM) multiparamétrica da próstata, um exame bastante específico. O profissional que assinou o laudo registrou que o paciente apresentava uma lesão altamente suspeita, informação que surpreendeu o urologista que há mais de 17 anos acompanha o paciente e jamais identificou alterações no exame de toque retal ou nas dosagens de PSA que justificassem a realização da RM. Se o resultado tivesse sido apresentado a um urologista que não conhecesse o histórico do paciente, ele imediatamente indicaria uma biópsia de próstata, procedimento invasivo que pode originar desde pequenos sangramentos (retais e uretrais) e infecções urinárias até uma infecção generalizada, com risco de morte e que, por isso, só deve ser solicitado em caso de real suspeita de câncer.
Este caso emblemático aponta para uma velha (mas sempre atual) polêmica: a solicitação exagerada de exames médicos, uma verdadeira epidemia da contemporaneidade! Muito além do desperdício de recursos financeiros, que acaba voltando para o paciente na forma de aumento das mensalidades dos planos de saúde, realizar exames preventivos desnecessários representa riscos. Um bom exemplo são os Raios-X e as Tomografias Computadorizadas, cujo efeito cumulativo no organismo pode danificar tecidos. Poucos pacientes na faixa dos 35 anos precisam fazer endoscopia ou colonoscopia, mas o que se vê é uma enxurrada de pedidos que não consideram protocolos. Isso sem falar nos infinitos exames de sangue prescritos de modo aleatório.
Já está mais do que provado que cuidar da saúde vai além de procurar doenças, já que, além de efeitos adversos na saúde física, a realização exagerada de exames pode afetar a saúde psicológica do paciente, por gerar ansiedade e/ou estresse desnecessários. Para evitar essa pressão, algumas atitudes podem ser adotadas. A primeira é ter um médico de referência, que acompanha o histórico de saúde do paciente e considera faixa etária, morbidades, sintomas e outras particularidades na hora de solicitar exames.
Outra atitude importante é levar exames anteriores para as consultas, a fim de não repeti-los sem motivo. Por fim, vale adotar uma postura proativa e investigar a real necessidade de realização de alguns exames. Perguntar ao médico a razão de cada pedido não significa que a pessoa duvida dos conhecimentos do profissional. Revela apenas que o autocuidado inclui o consumo consciente dos serviços de saúde.
Augusto Modesto é chefe do serviço de Urologia do Hospital Aristides Maltez, preceptor de Urologia no Hospital São Rafael, urologista no Hospital Aliança e integrante do Robótica Bahia – Assistência Multidisciplinar em Cirurgia.
Publicado originalmente no Jornal Correio e no site Correio 24 horas